Cemitério de Pianos
Li, gostei e aconselho. Não é uma obra prima, mas é um livro do José Luís Peixoto. E só por isso vale a pena: porque no meio da narrativa, detenho-me em frases que me fazem pensar duas vezes; porque aprecio a poesia por entre a prosa.
"Os meus pés deslizaram pelo chão de mosaicos, o meu corpo atravessou os corredores de paredes cinzentas e de lâmpadas quase fundidas, intermitentes, a falharem. Os meus olhos não viam nada. E entrei no quarto. De uma vez: a minha mulher deitada na cama a segurar o nosso Francisco nos braços. A sorrir com a vida. Caminhei mudo e lento até à cama. Não soube dizer nada. Mais tarde, haveria de dizer que, logo ali, tinha percebido tudo aquilo de que ele seria capaz. Mais tarde, haveria de dizer tantas coisas. Naquele momento, não soube dizer nada. Toquei a face do menino com as pontas dos dedos. Toquei a testa da minha mulher com os lábios. O tempo não existia."
" A verdade, como o silêncio, existe apenas onde não estou. O silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. Quando penso, o silêncio existe apenas fora daquilo que penso......"
Francisco Lázaro, o maratonista português que morreu nos Jogos Olímpicos, é uma das personagens deste livro. Mas, na minha opinião, é o cemitério de pianos e a fascinação por pianos de toda a família Lázaro, que trazem outra cor a este livro; e claro, a escrita sempre perfeita de José Luís Peixoto.
"Os meus pés deslizaram pelo chão de mosaicos, o meu corpo atravessou os corredores de paredes cinzentas e de lâmpadas quase fundidas, intermitentes, a falharem. Os meus olhos não viam nada. E entrei no quarto. De uma vez: a minha mulher deitada na cama a segurar o nosso Francisco nos braços. A sorrir com a vida. Caminhei mudo e lento até à cama. Não soube dizer nada. Mais tarde, haveria de dizer que, logo ali, tinha percebido tudo aquilo de que ele seria capaz. Mais tarde, haveria de dizer tantas coisas. Naquele momento, não soube dizer nada. Toquei a face do menino com as pontas dos dedos. Toquei a testa da minha mulher com os lábios. O tempo não existia."
" A verdade, como o silêncio, existe apenas onde não estou. O silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. Quando penso, o silêncio existe apenas fora daquilo que penso......"
Francisco Lázaro, o maratonista português que morreu nos Jogos Olímpicos, é uma das personagens deste livro. Mas, na minha opinião, é o cemitério de pianos e a fascinação por pianos de toda a família Lázaro, que trazem outra cor a este livro; e claro, a escrita sempre perfeita de José Luís Peixoto.
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